Formação do Preço no Mercado de Energia: o buraco é mais embaixo!

Formação do Preço no Mercado de Energia: o buraco é mais embaixo!

*Amilcar Guerreiro

É senso comum que, na opinião [correta] dos agentes de geração, o preço do mercado [de energia] de curto prazo não reflete a situação hidrológica adversa que o país vive e a consequência é que há distorção da percepção de risco dos agentes, inibindo seu comportamento prudente, com reflexos prejudiciais à eficiência setorial. Em outras palavras, o sistema elétrico está “doente”.

A percepção sobre esse “mal-estar” parece correta. O diagnóstico da “doença” é que parece equivocado. Se você tem febre, é sinal de que algo em seu organismo não funciona bem. Agora, identificar a causa da febre, este é o busílis da questão.

Da forma como a questão tem sido colocada, está subjacente que a causa do descompasso observado são os modelos computacionais utilizados no planejamento, na programação da operação e no cálculo do preço, que, então, precisariam ser aperfeiçoados para melhor representar as condições operativas reais. Trata-se de um mito, fácil de ser aceito por quem está distante de compreender o que fazem esses modelos.

Modelos, por definição, são uma aproximação da realidade. Como tal, precisam, sim, ser constantemente aperfeiçoados, até porque as “condições operativas reais” são dinâmicas. Além disso, métodos e técnicas empregadas na modelagem evoluem.

Os modelos utilizados no setor elétrico, desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, o CEPEL, refletem o estado da arte da operação hidrotérmica. Têm recebido permanente aprimoramento, processo do qual participam todos os agentes. Esses modelos, como nenhum outro disponível no mercado, no Brasil ou no exterior, representam as características e restrições dos componentes do sistema em detalhes. Portanto, a questão principal não são os modelos. Por que, então, os preços não refletem as condições reais da operação?

O cerne da questão está na calibração dos parâmetros de risco de desabastecimento que condicionam as decisões indicadas pelos modelos. Parâmetros de risco mais “apertados” levam à operação mais restritiva. Ao contrário, parâmetros mais frouxos indicam maior apetite para correr riscos mais altos. Nessa situação, os reservatórios, por exemplo, poderão ser mais deplecionados. Isso tem, por óbvio, reflexo na formação dos preços da energia.

O que ocorre é que os parâmetros utilizados podem não estar refletindo a percepção de risco dos agentes e, talvez, sequer a percepção de risco do próprio Operador.

É muito raso colocar a “culpa” nos modelos. Podem ser introduzidos aperfeiçoamentos nos modelos, e eles são bem-vindos. Pode-se adotar a prática da oferta de preços. Ainda nessa situação os modelos serão necessários. Mas, na situação de hoje, as indesejadas distorções permanecerão, caso não se ajustem os parâmetros de risco às percepções do mercado.

Discutir a percepção de risco é tarefa difícil, complexa e desgastante. Definitivamente, o buraco é mais embaixo!

*Amilcar Guerreiro é diretor-geral do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL.

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